sábado, 3 de março de 2012

Mulheres no Voltante


Acontece desde a ultima quinta-feira ,1° de maço, a quinta edição do festival Mulheres no Volante.
O Festival criado em 2007, divulga trabalhos de artistas, shows, oficinas, mostra de videos, exposições entre outros outros eventos de cunho cultural na cidade.

  
O Festival surgiu pela inciativa de um grupo de mulheres que cansadas dos festivais dominados pelo gênero masculino, criaram um festival em que Elas ditam as regras, promovendo assim, uma maior visualização das mulheres no meio artístico e cultural na cidade de Juiz de Fora (MG), além de um compartilhamento de experiências pessoais e profissionais com mulheres da cidade e de outras regiões.
O Festival que em 2012 apresenta o tema "Nas ruas e nas redes” , saiu de Juiz de Fora em 2011 e realizou uma edição do MnV em Brasília(DF), realizará em 2012 edições em cidades do estado de São Paulo e Rio de Janeiro.
  Confira a programação e divirta-se! 

sexta-feira, 2 de março de 2012

Gente da Nossa Terra

Com intuito de expor autores da região , amigos, conhecidos ou desconhecidos, o Blgo do CAHIST ira postar ocasionalmente obras literárias, gráficas, cinematográficas de autores de Juiz de Fora e região.
  Começamos bem com a companhia de Allan Rubens de Oliveira (www.facebook.com/allanrubensj )

 Divirtam-se.


Silêncio e Deixe

Allan Rubens de Oliveira

Silêncio e deixe com que os nossos corpos falem por nós.
Deixe com que os olhos se comuniquem.
Deixe com que as faces demonstrem a nossa expectativa.
Deixe com que a boca molhada seque no calor do beijo.

Aproxime-se e deixe com que a pele seja o nosso cobertor.
Deixe com que o coração se faça ritmista.
Deixe as mãos sobre encargo da liberdade.
Deixe as reações nos conduzir.

Deixe a tensão se libertar e a excitação nos dominar.
Segure o choro das dores e sorria para o gozo que se aproxima.
Respire, suspire, introduza a digna conduta.

Escorregue nos traços molhados dos nossos corpos que dizem muito sobre nós.
Memorize o olhar comunicativo e deixe a expectativa vibrar. A boca se faz molhada mesmo com a temperatura quente dos lábios sendo assim...

Nós fazemos. Próximos e cobertos, em ritmo e libertos sendo conduzidos pela excitação da respiração e suspiros dignos da conduta máxima do prazer sendo assim. Silêncio e deixe-o gemer de prazer feito eu e você.


Só assim o país tem alguma chance

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

SEMANA DE 22 – UM MARCO BRASILEIRO


SEMANA DE 22 – UM MARCO BRASILEIRO
22´s WEEK – A BRAZILIAN MARK
Por Cláudio Kaz
By Cláudio Kaz






Resumo:

A semana de arte moderna mudou o rumo das artes e do pensamento brasileiro. Apesar de não ter tido um grande sucesso na época, influenciou uma geração futura.
O Brasil já era independente há 100 anos e ainda não conseguia criar raízes profundas a respeito de sua identidade. Além de cópia dos modelos europeus de arte, os artistas se viam atrasados. Muitos ainda se expressavam com linguagens do passado. E a semana foi justamente para juntar grandes nomes das artes com novas idéias. Personalidades da pintura, escultura, poesia e música buscavam um caminho de livre expressão. Porém não foi fácil. Duras críticas foram feitas ao movimento e nos dias das apresentações os ânimos se exaltaram um pouco. Vaias, xingamentos, deboches. Tudo muito novo gera medo. Principalmente o autoconhecimento. Nessa década de 20 vem a público o movimento antropofágico. Carregado de idéias e pregando uma literatura livre, sem métodos. Era o amadurecimento de uma nação muito jovem que necessitava de uma certidão de maior idade.

Abstract:

The week of modern art changed the direction of arts and Brazilian thought. Despite not having had great success at the time, influenced a generation to come.
The independent Brazil was already 100  years independent and still could not put down roots deep about his identity. In addition to copying of European models of art, the artists saw themselves out of time. Many still expressed in languages ​​of the past. And the week happened to gather big names in art with new ideas. Personalities of painting, sculpture, poetry and music were seeking a way to free expression. But it was not easy. Harsh criticism was made ​​to the move and in the days of the presentations the moods exalted a little. Jeers, insults, slurs. Everything new breeds fear. Mainly self-knowledge. In this decade of 20 comes out the movement of anthropophagy. Loaded with ideas preaching a free literature, no methods. It was the maturing of a nation so young that he needed a certificate of adulthood.

Palavra-chave: antropofagia modernismo arte
                          Anthropophagy modern art

            O século XX começa. Todos os olhos se voltam para o futuro. Para o moderno. Para o novo. O mundo passa por uma crise de identidade. Tudo era velho, antigo e ultrapassado. O novo século viria para dar luz à humanidade. Tecnologias estavam surgindo e se popularizando. Muitos queriam ser novos humanos. Queriam o futuro e para isso precisavam apagar o passado. Ao mesmo tempo em que surge o Futurismo, surge também o Primitivismo. O futuro era mostrar que o não mostrado tinha algo de bom. O antes tachado como feio ou de mau gosto (leia-se “não-europeu”) agora era valorizado e difundido.
            O mundo em crise afetava a todos. Essa crise culminou em guerra alterando profundamente o panorama social, político, econômico e artístico do mundo. Movimentos radicais surgem pelo mundo como: Futurismo, Expressionismo, Cubismo, Dadaísmo, e o Surrealismo. Todos eles com o propósito de mudar os rumos da arte optando pelo novo e renegando o antigo. Quebrando paradigmas e mostrando que a arte estava “envelhecida”. Todos queriam renegar o modelo conservador e acadêmico.
            No Brasil não foi diferente. Além de ter sido afetado como todos os outros países, nossa nação passava por uma crise de identidade. Não sabíamos o que éramos. Que cara tínhamos. Como eram os Estados brasileiros. Só se via o litoral atlântico que mirava a Europa. Todos queriam ser Europeus. Todos agiam como tal. Especialmente imitando a França. Considerada a Meca cultural do mundo.
            Com a primeira Grande Guerra, surge uma tendência ao nacionalismo. E com todas essas novas correntes recém nascidas no mundo o Brasil inicia a vanguarda. Mario de Andrade já dizia que todos têm direito a pesquisa estética. Segundo a autora Lucia Helena, “(...) tanto a valorização da linguagem enquanto tema e objeto da própria arte, quanto à insatisfação do criador em face dos procedimentos já sedimentados, e a busca de penetrar nos domínios do inconsciente.” (HELENA, 1989: p. 06).
            Os debates em torno desse tema foram intensos. Muitas críticas duríssimas foram jogadas contra as pessoas que levantavam a bandeira da livre expressão. Nos anos surge o Modernismo, conhecida como fase “heróica”, pois suportou todo um conservadorismo vigente. Em meio a todos esses fatos acontece A Semana de Arte Moderna em 1922.
            A semana acontece em fevereiro de 1922 na cidade São Paulo. Conhecido como umas das maiores produtoras de café do mundo na época chegou a ter mais de 70% de todo o produto consumido no mundo feito lá. Os moradores de São Paulo viam a prosperidade econômica surgir em formas de mansões. Grandes avenidas e ruas largas eram feitas para receberem carros importados. Estrangeiros invadiam o país. Porém, toda essa riqueza contrastava com o estilo colonial e rural que ainda se imperava. As mudanças eram pouco absorvidas. Os próprios modernistas diziam que o Brasil era um país “jeca”. O isolamento cultural também era aparente. São Paulo e Rio de Janeiro foram os grandes centros nacionais que promoviam intercâmbio com a Europa e assim eram mais visíveis no mundo das artes. Nesse contraste, o embate se acirra. O Rio de Janeiro era mais pólo artístico que São Paulo, porém era mais seguidor do sistema acadêmico. São Paulo, por esse motivo era uma cidade onde era mais fácil se implantar algo novo.
            Antes da semana, porém, um longo caminho já tinha sido percorrido pelos estudantes brasileiros. Muitos deles após voltarem de viagens à Europa traziam novas tendências e queriam implantá-las aqui. Queriam colocar a arte brasileira em sincronia com a arte mundial. Colocá-la em patamar de igualdade. Isso não era novo. Juntou-se uma idéia já em moda para se alinhar a uma nova que todos queriam fazer. Na França se colocava o homem selvagem como um novo homem a ser seguido. Antes tachado como “sem alma” e bizarro, os índios e africanos eram tidos como originais. Tinham raiz cultural. Um grande dilema que se instalava entre os artistas eram a de que se era ou não original. Essa angústia era recorrente nas correntes artísticas. Tudo se imitava. Nada era novo. O homem selvagem era visto como um ser sem influências, puro e sem transgressões. O canibal era o cúmulo do selvagem. Um ser humano que absorvia toda coragem e magia do seu oponente através de sua carne. A partir dessa tese surgiu-se o Manifesto Antropofágico, onde Oswald de Andrade afirma que temos que “comer” a raiz nacional e “temperá-la” com toques de cultura dos nossos colonizadores fazendo assim uma cultura nova e original.
            Muitos simpatizantes do Modernismo ajudaram financeiramente. Sem o dinheiro para alugar o Teatro e a divulgação dificilmente eles conseguiriam coroar o evento no Teatro Municipal.
            Foram escolhidos os nomes para as apresentações. As artes plásticas estavam muito bem representadas. Todos paulistas.  Porém, o mesmo não se pode dizer das outras áreas. O Rio de Janeiro imperava nos famosos nomes. Somente Graça Aranha, carioca, que incorporou o movimento. Oswald de Andrade, numa roda de chá no meio aristocrático paulista proferiu discurso e convenceu todos mudarem o rumo da arte no Brasil a partir das comemorações do Centenário de Independência. A muito se queria fazer um mostra para trazer as novas idéias que vigoravam na Europa. Porém era preciso de suporte e união entre classe artística e burguesia. Queriam chocar a sociedade mostrando seus trabalhos baseados nessas novas tendências. Barões do café dividiram as despesas para com o movimento e assim dar início aos preparativos.
                        A semana, então, foi inserida no meio das comemorações do Centenário de independência do Brasil. Era a “independência artística”. E pretendia estimular os ânimos e alvoroçar a classe artística brasileira. O lindo e famoso Teatro Municipal foi palco para o prometido “show de horrores” como dizia Graça Aranha. Na verdade, o choque já tinha começado logo na entrada quando as pessoas já podiam ver as pinturas. E essas ficaram de segunda dia 13 até sábado dia 18 de fevereiro de 1922. Nomes como Anita Malfatti faziam brilhar e surpreender o hall de entrada. O mesmo aconteceu com Di Cavalcanti.
            Graça Aranha era ligada a Academia Brasileira de Letras. Muitos se perguntaram por que ele estava lá fazendo a conferência de abertura. E foi o nome dele que legitimou e valorizou a semana. Foi uma jogada de mestre colocá-lo lá. E ele, além de simpatizante, era bem relacionado com as altas esferas sociais. Porém, para Oswald, Paulo Prado foi o grande nome por trás da Semana de 22. Rico, político, bem relacionado e escritor, comandava almoços com grandes nomes das artes. Além de se comer bem as reuniões é que se destacavam. Os debates giravam em torno de qual rumo o Brasil deveria tomar em relação às artes. Outro que não podemos deixar de citar: Monteiro Lobato. Crítico ferrenho do modernismo, seus “tiros” em direção ao movimento saiu pela culatra. Somente levou o nome dos modernistas mais longe. Apesar das críticas, Monteiro Lobato foi convidado para apadrinhar o evento. Porém, recusou e Graça Aranha tomou seu lugar. Muitos dizem que Lobato não deu o braço a torcer, pois poderia se converter ao modernismo se aceitasse o convite. Quem sabe. O que se sabe é que Lobato já começara um rompimento na estética artística brasileira. Produziu textos com mais oralidade brasileira e introduziu figuras do folclore na literatura. Talvez por ter sido ranzinza, continuou um cavaleiro solitário.
            Entretanto, os grandes nomes do movimento foram, sem sombra de dúvida, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Eles “teriam funcionado como catalisadores de uma tendência esboçada no cenário pós-guerra. Dotados de personalidades, extração social, atitude e estilos inversos (...) juntos, dinamizaram e deram vida à constelação que se formou ao redor deles, e a qual souberam inspirar e fecundar. (CAMARGOS, 2007: p.27). Mário era pensador. Raciocinava várias vezes sobre o mesmo tema. Não deixava escapar qualquer detalhe. Inclusive seus próprios pensamentos. Era homem mais sério e centrado. Oswald, pelo contrário, era o estopim de idéias. Se levava pelas primeiras impressões que lhe vinham à cabeça. Tinha uma inteligência rápida e um humor ácido. Conseguia sintetizar tudo. Desses dois opostos criou-se uma amizade conflitante, mas muito saudável para o movimento.
            A aristocracia paulistana toda assistia ao espetáculo. Inclusive Washington Luiz, que na época era Presidente do Estado (o equivalente a Governador hoje). Empresários riquíssimos também se encontravam no teatro tentando digerir todas aquelas apresentações estapafúrdias. Num dos cartazes da Semana se via estampado “Nós temos talento.” Além das bem humoradas críticas a grandes nomes do mundo das artes com caricaturas e frases satíricas como: Carlos Gomes é burro! Ou Chopim era tocador de berimbau!
            No primeiro dia, Graça Aranha proferiu uma longa introdução. Apesar de o dia ter sido tranqüilo todos saíram meio confusos. Seu discurso pregava totalidade cósmica, objetividade dinâmica, o surto do gênio avesso a disciplina no momento da inspiração tornando livre a criação. Sendo assim, a arte moderna veio como uma aurora que tem no regionalismo um material vasto, aspirando assim o universal. Por mais estranho que isso parecesse. Com um texto difícil de entender e indefinido os espectadores se entreolhavam.
            No segundo dia, quarta-feira dia 15 de fevereiro, foi o dia da literatura. Menotti Del Picchia abriu os trabalhos. Ainda tivemos Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Oswald de Andrade. Numa tremenda jogada de marketing, apesar de parecer o contrário, Oswald, conhecido como o mais debochado da turma, incitou estudantes de Direito a vaiarem e gargalharem. Além de gozações ao imitar animais e onomatopéias. Sem esquecer também da chuva de hortifrutigranjeiros que voavam no palco. Ovos, tomates, alfaces etc. além, claro, de palavrões impublicáveis. O motivo era escandalizar a burguesia paulistana. Super provinciana e chique que só aceitava padrões estéticos conservadores e etiqueta. Etiqueta e boa educação acima de tudo. Como nos moldes ainda da realeza. O mais importante era que o festival não passasse em branco. Era melhor ter um uma gama de pessoas contra do que o marasmo da indiferença. As críticas geravam discussões. E isso era fundamental.
            No terceiro dia, relativa tranqüilidade. Porém, Villa-Lobos se apresenta de maneira, digamos, um pouco diferente. Num pé sapato e no outro chinelo! Isso foi tido, para muitos como uma afronta. Eletrizando mais ainda os nervos da platéia. Mais tarde o maestro se justifica que não se tratava de nenhum ato rebelde. Apenas usara chinelo, pois estava passando mal devido a uma crise de gota. Já não bastasse o susto na entrada com os quadros, os presentes “arregalaram os olhos” (e os ouvidos também) quando o maestro mostrou suas músicas misturadas a instrumentos nordestinos!
            Na verdade, a Semana deixou a desejar em alguns aspectos. Deixou de fora nomes de outros Estados brasileiros. O velho eixo Rio-São Paulo vigorou. Apesar de Mário e Oswald terem redescoberto o Brasil com suas viagens, muitos artistas brasileiros não participaram simplesmente porque desconheciam o evento. E até mesmo dos nomes conhecidos da época, muitos ficaram de fora. Na música, por exemplo, Ernesto Nazareth. Monteiro Lobato não participou por motivos já explicados. Manuel Bandeira estava enfermo. Fotografia e Cinema também não tiveram vez. Isso sem falar do teatro e dança. A impressão que se tem é a de que se fez com o que se tinha em mãos. Ou se tratava de um grupo fechado e corporativista. Também se tem a teoria do esquecimento. Estavam tão empolgados com seus próprios trabalhos que se esqueceram de outros nomes.
            A Semana foi ignorada pelo grande público, e foi extremamente criticada pelos jornais e revistas. Além de ter sido alvo de chacota pelos seus próprios organizadores. Mesmo assim, mudou o rumo das artes no Brasil. Porém não deve ser tratada com um marco zero das artes no Brasil. Muito de produziu antes e com excelente qualidade. O Modernismo veio para mudar, logicamente a partir do já feito. O multiculturalismo brasileiro não era conhecido, pois sempre empregava modelos europeus aos seus feitos. Dificultando assim a expressão de toda sua diversidade.
            O movimento também serviu de alerta e denúncia. Era o Brasil mostrando o Brasil para os brasileiros. Muitos foram os nomes que retratavam o verdadeiro dilema. Fome, miséria, doenças. Esse era o quadro. Muitas sementes surgiram desses fatos. Inclusive o nascimento do Partido Comunista. Apesar disso tudo, o povo não participou muito ativamente, pois achava o movimento “coisa de grã-fino”. Somente com o passar do tempo é que se popularizou. Muitos artistas queriam que as artes alcançassem as grandes massas. Com fácil compreensão e que tivesse uma finalidade social. Entretanto isso era um conflito interno. Ser popular ou experimentar novas receitas estéticas onde os mais instruídos é que teriam maior compreensão?
            Mesmo assim, nas letras, a coragem de fazer com que os intelectuais aceitassem poemas como “Os Sapos” de Manuel Bandeira era de grande valia. Falava-se de coisas comuns ao dia a dia. Coisas modernas e usuais. Era possível o quanto tropical o país é. Aceitava-se a cultura tida como bárbara pelos colonizadores e que continuavam sendo pelos europeus. Mas, por um lado, ninguém também sabia ao certo se era moderno. Era também uma fase de experimentação. Não se sentiam uma corrente forte. Era como se cada participante tende-se para um lado. A base era a mesmo, mas alguns ainda puxavam mais para o lado futurista, outros dadaísta, etc. Outros continuavam nas altas rodas da sociedade. Talvez possamos dizer que os jovens sabiam o que não queriam, mas não o que queriam. Queriam abraçar o mundo e acabavam entrando em contradições ao abraçar bandeiras que no fundo eram conservadores e elitistas. Formando, assim, blocos dentro do movimento.
            Logo após a Semana de Arte Moderna, seus membros saíram do anonimato. Tiveram mais responsabilidade. A fase de negação do passado já não bastava. Agora o próximo passo era erguer um estandarte com a cultura brasileira. Várias revistas foram criadas para que isso se tornasse possível. Os modernistas começaram viagens pelo Brasil para “redescobri-lo”.
            Apesar da ambigüidade, o movimento alcançou lucidez com a antropofagia. Além do Movimento Antropofágico, surgiram também Movimento Pau-Brasil, que apresentava uma posição primitivista, buscando uma poesia ingênua, de redescoberta do mundo e do Brasil e que foi inspirada nos movimentos de vanguarda europeus, devido às viagens que Oswald fazia à Europa e Movimento Verde e Amarelo e o Grupo do Anta. Nesse último destacavam-se os textos patrióticos e ufanistas com uma idealização do país.
O movimento encontrou muita força nas revistas Klaxon e Revista de Antropofagia. A primeira circulou por quase 1 ano. Interessante destacar que a palavra Klaxon é usada para designar a buzina externa dos automóveis. Já na segunda revista destacam a frase irônica de Oswald de Andrade sob o pseudônimo de Freuderico: “Não fazemos crítica literária. Intriga, sim!”. Outra interessante frase feita pelos organizadores foi: “A revista de antropofagia não tem orientação ou pensamento de espécie alguma: só tem estômago.” Com essas demonstração de bom humor que podemos ter uma boa idéia do que eram esses periódicos.
O Modernismo assimilava e não copiava modelos estrangeiros. O mais importante era olhar para dentro e ser capaz de se conhecer. Inclusive fazer paródias, tirar sarro e poder rir de si mesmo. Mas, nunca se anular.
São inúmeros os nomes de hoje que se basearam no movimento. O próprio Tropicalismo fundado por Caetano Veloso e Gilberto Gil era bem fundamentado no movimento antropofágico. Como dizia Gilberto Gil queríamos juntar Orquestra de Pífanos de Caruaru com Jefferson Airplane. Tom Jobim já dizia que seu mestre maior era Villa-Lobos. Paulo Leminski tem “pedaços” de modernistas em sua obra. O próprio Chacrinha tinha o colorido e a esculhambação características dos que vieram para confundir e não para explicar. Reparem na música de Tom Zé que se chama Tô:

(Tom Zé)

Tô bem de baixo prá poder subir
Tô bem de cima prá poder cair
Tô dividindo prá poder sobrar
Desperdiçando prá poder faltar
Devagarinho prá poder caber
Bem de leve prá não perdoar
Tô estudando prá saber ignorar
Eu tô aqui comendo para vomitar
Eu tô te explicando
Prá te confundir
Eu tô te confundindo
Prá te esclarecer
Tô iluminado
Prá poder cegar
Tô ficando cego
Prá poder guiar
Suavemente prá poder rasgar
Olho fechado prá te ver melhor
Com alegria prá poder chorar
Desesperado prá ter paciência
Carinhoso prá poder ferir
Lentamente prá não atrasar
Atrás da vida prá poder morrer
Eu tô me despedindo prá poder voltar

Temos inúmeros trabalhos que podemos citar aqui. Todos visivelmente absorvidos do modernismo.
A verdadeira questão era como dizia Oswald de Andrade: Tupi or not Tupi.

Bibliografia:

CAMARGOS, Márcia. 13 a 18 de Fevereiro: A Semana de 22: Revolução Estética? São Paulo: Lazuli, 2007.

HELENA, Lúcia. Modernismo Brasileiro e Vanguarda.  São Paulo: Ática, 1989.

NETTO, Adriano Bitarães. Antropofagia Oswaldiana: Um Receituário Estético e Científico. São Paulo: Annablume, 2004.

Cláudio Kaz: Formado em História pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Há 8 anos é músico profissional e hoje leciona inglês na Bit Company. Estudou inglês em Dublin, República da Irlanda.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

I Seminário Nacional LEPCON‏


Estão abertas as inscrições de trabalhos para o I Seminário Nacional LEPCON. O evento acontecerá nos dias 17 e 18 de novembro de 2011 no Instituto de Ciências Humanas da UFJF e terá como tema Minorias e suas Representações.
Os interessados em apresentar comunicação no evento têm até o dia 30 de outubro para enviar o resumo com a proposta.

Para maiores informações e conferir a programação completa, acessem:

http://lepcon.blogspot.com

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Você conhece o professor Rivail?



Você conhece o professor Rivail?
Por Cláudio Kaz


03 de outubro de 1804 na cidade de Lyon, na França, nasce Hippolyte-Léon-Denizard Rivail. Você pode não reconhecer esse nome, mas ele foi bem famoso em seu tempo. Porem ele é conhecido hoje por outro nome. Continua não entendendo? Então vamos continuar.
Nos seus primeiros anos de vida estudou na cidade de Lyon, quando em 1814 foi para Suíça e educado no Instituto Pestalozzi de Yverdon. Fundado e dirigido pelo próprio Johann Heinrich Pestalozzi. Célebre pedagogo e educador suíço, um dos pioneiros na reforma educacional. Não se sabe ao certo quando Rivail voltou para a França, mas com 18 anos já trabalhava com magistério e tradução de livros. E seu primeiro livro Curso prático e teórico de aritmética, saiu em 1823.
Muito aplicado e estudioso, além do seu trabalho com sala de aula e livros passa a freqüentar a Sociedade de Magnetismo de Paris e em 1825 dirige a Escola de Primeiro Grau. Lá aplica a sua maior influência, o seu mestre Pestalozzi. Podemos dizer que Pestalozzi está para o professor Rivail assim como Rousseau está para Pestalozzi.
Na escola aplicava os principais mandamentos de seu mestre:
1.    A intuição é o fundamento da instrução.
2.    A linguagem deve estar ligada à instituição.
3.    A época de ensinar não é a de julgar e criticar.
4.    O ensino deve seguir a via de desenvolvimento jamais, a da exposição dogmática.
5.    A individualidade do aluno deve ser sagrada para o educador.
6.    As relações entre mestre e aluno, sobretudo no que concerne à disciplina, devem ser fundadas no amor e por ele governadas.
Um ano depois Rivail funda o Instituto Técnico Rivail. Esse bem mais modelado no instituto de Yverdon. Seguindo a mesma linha cria seis princípios básicos ao ensino:
1.    Cultivar o espírito natural de observação das crianças, dirigindo-lhes a atenção para os objetos que as cercam.
2.    Cultivar a inteligência, observando um comportamento que habilite o aluno a descobrir por si mesmo as regras.
3.    Proceder sempre do conhecido para o desconhecido, do simples para o composto.
4.    Evitar toda atitude mecânica, levando o aluno a conhecer o fim e a razão de tudo o que faz.
5.    Conduzi-lo a apalpar com os dedos e com os olhos todas as verdades.
6.    Só confiar à memória aquilo que já tenha sido apreendido pela inteligência
Seu trabalho recebe grande reconhecimento. Rivail dedicou sua vida à educação e se convence de que somente por ela se pode melhorar o mundo. Em 1828 elabora um projeto chamado Plano Proposto Para a Melhoria da Educação Pública e o lança em livro.
Em 1831, mais três livros:
1.    Memória Sobre a Instrução Pública.
2.    Gramática Francesa Clássica de Acordo com um Novo Plano.
3.    Qual sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades da época? (Premiado pela Real Academia de Arrás)
Nesse mesmo ano conhece Amélie-Gabrielle Boudet. Com quem se casaria no ano seguinte.
Porém, no ano de 1834, seu tio e sócio no instituto, põe tudo a perder, pois seu vício em jogatina o faz aumentar cada vez mais as dívidas. Com isso, não agüentando a pressão, precisou fechar as portas. Como desgraça quando chega nunca vem sozinha, o dinheiro que sobrou do instituto tinha sido entregue a um amigo para investimentos comerciais. Com uma sequência de péssimos negócios, Rivail e Amélie ficaram com uma mão na frente e outra atrás.
Aos 31, longe de desanimar, Rivail levantou a cabeça junto com sua esposa e começou a trabalhar como contador de três empresas e a noite se dedicava aos estudos e livros. Além de cursos gratuitos para jovens pobres. A má fase veio como uma transformação na vida de Rivail. Parece que às vezes seja necessário acontecer algo desse tipo em nossas vidas. No caso dele só veio a somar. Podemos analisar Rivail como um burguês liberal, seguidor do "Liberdade, igualdade, fraternidade." Convencia-se de que era preciso criar uma nova humanidade através da criança. Era reformador, progressista, acreditava nas novas descobertas da ciência e no positivismo. E, sobretudo na educação. Em suas palavras “aquele que estudar as ciências rirá da credulidade supersticiosa dos ignorantes... Ele não mais crerá em almas do outro mundo e em fantasmas. Não mais tomará fogos-fátuos por espíritos”.
É... Sr. Rival realmente precisava mudar. E mudou. Apesar de seu excelente trabalho nas áreas da educação sua mente ainda era de um homem de seu tempo. Foi então que algo aconteceu.
Em 1854 se encontrou com um amigo e comentou a respeito de fenômenos que estavam acontecendo em Paris. Senhor Fortier era magnetizador e comentou com o professor Rivail sobre “mesas girantes”. Após ser explicado do que se tratava e Rivail não ter levado muito fé, resolveu explicá-lo por meios de ciência conhecida do que se tratava. Um outro encontro em outro dia, o mesmo assunto. Senhor Fortier dizia que as mesas não só giravam, mas também respondiam a perguntas. Incrédulo, professor Rivail não deu muita atenção aos casos.
Somente um ano depois, novamente encontrando com o mesmo senhor resolveu ter ver com os próprios olhos do que se tratava. Uma reunião foi marcada e o que aconteceu realmente o instigou e mudou completamente sua vida. Viu mesas girarem, saltarem e corriam. Uma cesta com um lápis pendurado escrevia palavras em uma ardósia. Pela dimensão do visto ele resolveu procurar a causa daquilo tudo.
Após freqüentar várias reuniões constatava que pessoas “sonâmbulas” respondiam perguntas formuladas oralmente e até mentalmente.
As pessoas faziam perguntas sobre coisas fúteis e até divertidas. Porém, com o passar do tempo o professor foi sistematicamente freqüentando o ambiente e formulando perguntas mais sérias. Com isso o interesse dos frívolos foi se perdendo e os mesmos deixando de comparecer. Rivail aplicou nessa ciência toda a sua bagagem. Sem teorias preconcebidas, observava cuidadosamente, comparava, deduzia conseqüências. Tentava remontar as causas de tais efeitos, tanto por dedução como por encadeamento da lógica dos fatos. Não admitia uma só explicação. Somente quando sanava todas as dificuldades da questão. Viu ali, uma luz que poderia resolver problemas da humanidade. Questões que ele próprio procurava.
Certa noite, um médium fez-lhe uma comunicação pessoal. Um espírito disse que conhecia o senhor Rivail em outra vida. Eles eram amigos e viveram no tempo dos Druidas, na Gália. E que o nome do professor Rivail em outra existência era...? Você caro leitor, já adivinhou de quem estamos falando? Não? Então aí vai. O nome do professor Rivail em outra existência era Allan Kardec. Sim! Ele mesmo! Acredito eu que você já tenha ouvido esse nome antes. Pois é. Surpreso?
Após várias sessões, com o professor sempre levando questões previamente formuladas sobre psicologia, filosofia e sobre o mundo invisível, percebeu que ali se formava uma doutrina. Depois de muito comparar, observar e julgar.
Certa noite entrou em contato com um espírito através de um médium em uma sessão e tal entidade se autodenominou A Verdade. E dizia que iria estar disponível para o professor para responder perguntas. E completava que o senhor Rivail tinha uma missão a cumprir.
E em 1857, após juntar todas as respostas viu o esboço de um livro. Foi então que em 18 de abril 1857 é lançado O Livro dos Espíritos.
O livro vem com 1019 perguntas. Tratando de filosofia, ciência e religião. Assuntos mais variados como Deus, universo, criação, encarnação, reencarnação, moral, sociedade, progresso, liberdade, fraternidade e igualdade etc. É leitura de fôlego caro leitor! Indispensável, independente de qualquer credo.
Com o sucesso do Livro dos Espíritos Allan Kardec (agora já podemos chamá-lo assim) percebeu uma necessidade. A troca de informações. Com isso lança a Revista Espírita em 1858. E no mesmo ano cria a Sociedade Espírita de Paris. A fama do livro o fez ter contato com personalidades da época. Pessoas de alto nível social, literário, artístico e científico. Inclusive era contatado por Napoleão III que não escondia seu interesse pelos fenômenos.
Em 1859 lança O que é o Espiritismo. Onde trata de noções elementares a doutrina espírita e resposta as mais notórias objeções ao espiritismo.
1861 mais um livro. O Livro dos Médiuns trata das manifestações e, logicamente, dos médiuns. É um guia para aqueles que desejam participar de atividades mediúnicas. Ou também para os interessados em conhecer.
No mesmo ano o espiritismo sofreu um atentado. Allan Kardec recebeu um pedido de encomenda de seus livros para serem enviados a Espanha. Da alfândega as caixas não sobreviveram. Como o conteúdo das caixas era declarado, o Bispo de Barcelona julgou os livros ofensivos a fé católica. Sendo assim, mandou confiscar e queimar todo o material. Nada que perturbasse a trajetória espírita. Como dizia Kardec “podem queimar livros, mas não se queimam idéias”.
1864 foi o ano de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Talvez o livro mais religioso. Trata-se do ensino moral deixado por Jesus Cristo. Explica, na visão espírita, os ensinamentos deixados pelo Cristo e como utilizá-las nos vários campos da vida. Também indispensável essa obra.
No outro ano é a vez de O Céu e o Inferno. Fala da justiça divina segundo o espiritismo. De onde viemos? Para onde vamos? Como é a vida do outro lado? Questões como essas são abordadas. Fala sobre penalidades, recompensas, anjos, demônios e penas eternas. Mostrando, através de comparação, como são ilógicos certos fatos. E além de depoimentos de espíritos desencarnados. Cada um em um estado evolutivo diferente.
Então, em 1868, seu último livro em vida. A Gênese. Aborda a síntese dos volumes antes publicados. Tudo de um ponto de vista científico. Analisa a origem do planeta terra, sem misticismos já conhecidos. Fala sobre milagres, predições, sinais dos tempos, novas gerações e lei Divina.
Em 1869 morre. Seus restos mortais se encontram hoje no cemitério Père-Lachaise, em Paris com os dizeres em seu túmulo: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”
Seu legado permanece ate hoje e o espiritismo cresce cada vez mais. Principalmente no Brasil. Dizem que algo se auto-anula com o passar do tempo, quando a fundamentação não é coerente. Sendo assim, podemos perceber que a chama dessa doutrina não se apaga. Muito pelo contrário, sobeja cada vez mais.