segunda-feira, 29 de agosto de 2011

SEMINÁRIO - ATUALIDADE DE SÉRGIO BUARQUE DE HOLANDA






Abertura dia 13/09 às 17h, IEB-USP

Mesas: de 14 a 16/9, das 9h às 12h e das 14h às 17h, no Auditório da Geografia/História FFLCH-USP. Não é necessário inscrição Contato: (11) 3091-1149 difusieb@usp.br


sábado, 27 de agosto de 2011

Passeio Socrático


Passeio Socrático

Por Frei Betto *


Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos em paz em seus mantos cor de açafrão.

Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir:

- "Qual dos dois modelos produz felicidade?"
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei:

- "Não foi à aula?"

Ela respondeu: - "Não, tenho aula à tarde". Comemorei:

- "Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde".

- "Não", retrucou ela, "tenho tanta coisa de manhã..."

- "Que tanta coisa?", perguntei.

- "Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina", e começou a elencar seu programa de garota robotizada.

Fiquei pensando: - "Que pena, a Daniela não disse: "Tenho aula de meditação!"

Estamos construindo super-homens e supermulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados. Por isso as empresas consideram agora que, mais importante que o QI, é a IE, a Inteligência Emocional. Não adianta ser um superexecutivo se não se consegue se relacionar com as pessoas. Ora, como seria importante os currículos escolares incluírem aulas de meditação!

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! - Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: "Como estava o defunto?". "Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!" Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Outrora, falava-se em realidade: análise da realidade, inserir-se na realidade, conhecer a realidade. Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Pode-se fazer sexo virtual pela internet: não se pega aids, não há envolvimento emocional, controla-se no mouse. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual, entramos na virtualidade de todos os valores, não há compromisso com o real! É muito grave esse processo de abstração da linguagem, de sentimentos: somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. Enquanto isso, a realidade vai por outro lado, pois somos também eticamente virtuais…

A cultura começa onde a natureza termina. Cultura é o refinamento do espírito. Televisão, no Brasil - com raras e honrosas exceções -, é um problema: a cada semana que passa, temos a sensação de que ficamos um pouco menos cultos. A palavra hoje é "entretenimento"; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela.

Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: "Se tomar este refrigerante, vestir este tênis, usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!"O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

Os psicanalistas tentam descobrir o que fazer com o desejo dos seus pacientes. Colocá-los onde? Eu, que não sou da área, posso me dar o direito de apresentar uma sugestão. Acho que só há uma saída: virar o desejo para dentro. Porque, para fora, ele não tem aonde ir! O grande desafio é virar o desejo para dentro, gostar de si mesmo, começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor.. Aliás, para uma boa saúde mental três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Se alguém vai à Europa e visita uma pequena cidade onde há uma catedral, deve procurar saber a história daquela cidade - a catedral é o sinal de que ela tem história. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shopping centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingos. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno.... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do McDonald's…

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: "Estou apenas fazendo um passeio socrático." Diante de seus olhares espantados, explico: Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser 
feliz.

Fonte: http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/cronica_ver.asp?id=1601

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

GUARDAR - Antonio Cícero






Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.

Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.

Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.

Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.

Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Há 50 anos, renúncia de Jânio Quadros jogou país em uma crise - Marco Antonio Villa


Jânio Quadros foi eleito presidente com 48% dos votos (na época não havia segundo turno), mas renunciou após sete meses de governo, a 25 de agosto de 1961.
Jogou o país numa grave crise política, que só foi encerrada, duas semanas depois, com a posse do vice-presidente João Goulart, mas com a mudança do regime político, do presidencialismo para o parlamentarismo.
Jânio teve uma carreira meteórica: em sete anos passou de prefeito de São Paulo (1953) a governador (1954) e presidente eleito (1960).
O janismo foi um fenômeno político paulista, produto da transição de uma sociedade de massas para uma sociedade de classes. Nos anos 40 e 50, a grande migração nordestina e mineira alterou profundamente o Estado, tal como a expansão da industrialização e a urbanização.
Divulgação
Carismático, Jânio usava a vassoura como símbolo para varrer a corrupção do Brasil
Carismático, Jânio usava a vassoura como símbolo para varrer a corrupção do Brasil

As maiores greves da década de 50 tiveram São Paulo como palco principal (1953 e 1957). A primeira delas coincidiu com sua eleição para a prefeitura da capital. Jânio apoiou os grevistas. Sabia que tinha de fazer um discurso dirigido aos mais pobres, apoiando as demandas sociais (transporte coletivo, escolas, hospitais) da cidade que mais crescia no mundo.
Ele foi o primeiro político que transformou o combate à corrupção em plataforma eleitoral. Usou como símbolo a vassoura, provavelmente inspirado numa passagem de "O Escândalo do Petróleo e Ferro" de Monteiro Lobato. Com a vassoura, um gestual histriônico e um português recheado de formas oblíquas, transformava cada comício em um show.
Venceu a eleição para a prefeitura sem base partidária, outra característica sua. Usou como slogan "o tostão contra o milhão", simbolizando a disputa contra uma poderosa coligação de nove partidos e com muito dinheiro. Repetiu a dose, meses depois, em 1954, derrotando seu arqui-inimigo, Adhemar de Barros, para o governo do Estado. Desta vez cumpriu integralmente o mandato.
Abriu vários inquéritos para apurar supostas irregularidades dos governos anteriores. Insistia na tese de que para ele a política era um enorme sacrifício pessoal e que aguardava ansioso o final do governo para se recolher a vida privada. O sofrimento era pura representação. Em 1958 foi eleito deputado federal pelo Paraná. Não compareceu a nenhuma sessão do Congresso. Era mais uma característica sua: o desdém pelo Legislativo.
Dois anos depois, representando o mesmo papel --de candidato solitário que recebia apoio de partidos e não como representante de partido-- derrotou Teixeira Lott, apoiado pelo presidente Juscelino Kubitschek. Obteve este feito nacionalizando seu discurso. De fenômeno paulista transformou-se em um fenômeno nacional.
Na Presidência esgotou seu potencial renovador. Reforçou suas características mais conservadoras. Não teve problemas com o Congresso: aprovou tudo o que considerava importante. Fez um governo bipolar. Adotou um programa econômico conservador. Desvalorizou a moeda, e a inflação subiu.
Em contrapartida implantou a política externa independente, rompendo com o alinhamento automático com os EUA em plena Guerra Fria, quando a questão cubana estava no auge. Buscou estabelecer uma relação direta com os governos estaduais. Imiscuiu-se em questões da esfera privada: chegou a proibir os biquínis.
Mas o que parecia novo estava carregado do velho golpismo latino-americano. Desejava o poder absoluto. Tentou um golpe de sorte: a renúncia. Isto sem que tivesse ocorrido nenhuma grave crise. De forma abrupta resolveu abandonar a Presidência. Foi uma ação tão intempestiva que até assustou os ministros militares, que não foram consultados e nem tinham um plano para um golpe, apesar de suas simpatias pelo autoritarismo janista.
Imediatamente deslocou-se para São Paulo. Imaginou que retornaria a Brasília nos braços do povo e com amplos poderes. Puro delírio. Saiu da base aérea de Cumbica solitário, guiando um DKW, rumo ao litoral, de onde partiu dias depois para a Inglaterra. E passou três décadas tentando explicar a renúncia.
O auge do janismo ocorreu no momento de transição da política nacional. Reflexo de uma sociedade em rápida mudança, com vários desafios a serem enfrentados sem que o sistema político possibilitasse respostas eficazes.

MARCO ANTONIO VILLA, historiador, é professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

PALESTRA - SISTEMA DE MUSEUS DE OURO PRETO

PALESTRA - SISTEMA DE MUSEUS DE OURO PRETO

Experiência para ser compartilhada com a Rede de Museus e Instituições Culturais de Juiz de Fora (Remic-JF)

TEMÁTICA

Histórico da criação do Sistema Nacional de Museus. Política Nacional de Museus: histórico, elaboração, legislação: o Estatuto de Museus, Criação do Sistema Brasileiro de Museus: criação, formação do Comitê Gestor, legislação, funções e atuações. Histórico da criação de Sistema de Museus de Ouro Preto: legislação, formação, ações e atuações. 


CURRÍCULO DO PALESTRANTE

Prof. M.Sc. Gilson Antônio Nunes 
Graduado em Engenharia Civil, Especialista em Ensino de Astronomia e Mestre em Ciências dos Materiais (meteorítica) 
Coordenador Executivo do Sistema de Museus de Ouro Preto 
Coordenador Acadêmico do Museu de Ciência e Técnica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) 
Professor do Departamento de Museologia da UFOP 
Chefe do Departamento de Museologia da UFOP (DEMUL/UFOP) 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Festival de História




Evento inédito na área de história acontece em outubro na cidade Diamantina e pode reunir aproximadamente cinco mil pessoas

Uma grande festa em torno da história. Assim poderia ser definido o "Festival de História", evento inédito que acontece entre os dias 7 e 12 de outubro de 2011, na cidade mineira de Diamantina. Concebido pela Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN), o "fhist", nasce sob o desafio de tornar-se palco de convergência das expressões artísticas focadas nos temas históricos. Mas muito além do desafio de constituir um novo canal de expressão, o fHist tem como desafio maior ampliar o interesse da sociedade pela História, por meio da criação de espaços e da interação, em um mesmo momento, dos autores, editores, atores, produtores, diretores com o grande público.

Para a realização do Festival de História, foram realizadas parcerias entre diversas instituições. Além da Revista de História, o projeto envolve a Secretaria de Cultura, Turismo e Patrimônio, a Prefeitura de Diamantina, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), comunidades acadêmicas e culturais. E não é para menos. O evento pretende reunir milhares de pessoas de todo o país, que poderão conferir grandes nomes da historiografia brasileira e participar de oficinas temáticas. Durante os seus dias de programação, o participante poderá participar de mesas redondas e palestras com autores e jornalistas consagrados na "Tenda dos Historiadores", na Praça Doutor Prado. Além disso, o evento segue também no recém-inaugurado Teatro Santa Izabel (que exibirá filmes), no Mercado Velho, na Praça Barão Guaicuí e em diversos outros espaços de Diamantina, onde será possível topar com apresentações musicais e teatrais.

Para isso, o fHist, que tem sua curadoria a cargo do editor da revista, Luciano Figueiredo, a realização sob a responsabilidade de Otto Sarkis, da Nota Comunicação, e a coordenação do jornalista Américo Antunes, vai se utilizar de espaços próprios de debates e incentivar as interações entre autores, pesquisadores, editores e quem mais se interessar pelo tema.Entre os pesquisadores e escritores confirmados estão nomes de grande destaque no cenário nacional: Boris Fausto, Caio Boschi, Ronaldo Vainfas, Laura de Mello e Souza, Santuza Cambraia, Luiz Mott, entre outros.

O Café História – grande entusiasta do Festival de História – entrou em contato com a equipe da Revista e fez uma agradável entrevista, que você pode conferir a seguir. Para saber como se inscrever ou saber mais sobre hospedagem, transporte, programação, veja o “Serviço”, logo abaixo da entrevista. E, por fim, para celebrar a chegada do Fhist, o Café História e a Revista de História da Biblioteca Nacional vão sortear três assinaturas da Revista. Clique aqui para saber como participar do sorteio.

Entrevista

Como surgiu a ideia do Festival de História e qual o seu objetivo?

Nos últimos anos tem crescido bastante o interesse por temáticas relacionadas à História, sobretudo em meios não-acadêmicos, com a difusão do conhecimento ao grande público. O Festival de História surgiu nesse movimento de promover a divulgação do saber, no entendimento da importância dele para a nossa identidade cultural e construção da cidadania. O seu maior objetivo, portanto, é ampliar o interesse da sociedade pela História na oportunidade de fazer o público interagir com atores, autores, produtores, diretores, etc..

Por que a cidade de Diamantina foi escolhida para sediar o Festival?

A cidade de Diamantina tem um valor cultural e histórico inestimável. A proposta do Festival é, acima de tudo, uma nova forma de viver a História que não é a da sala de aula, nem dos congressos acadêmicos. Diamantina será o lugar de convívio dessa experimentação histórica nas suas manifestações artísticas, grupos musicais e folclóricos, escolas, museus, bibliotecas, restaurantes, que oferecerão, no dia-a-dia, uma programação cultural excepcional, focada em temas históricos.

Qual a diferença entre o Festival de História e eventos acadêmicos da área?

O evento, desde a sua acepção, tentou fugir de uma ideia estritamente acadêmica. A proposta é ter uma abordagem da História diferenciada com uma variedade de convidados – não apenas historiadores – e temas. O teor das palestras será descontraído com assuntos abrangentes proporcionando um bate-papo informal e interativo. Não podemos esquecer a quantidade de atividades culturais ligadas ao Festival que contribuirão para outra vivência de História.

Quantas pessoas a organização do evento espera?

Como é a primeira edição do Festival, esperamos em torno de cinco mil pessoas, entre estudantes de História e outras ciências sociais, mas também pessoas interessadas em ampliar seu conhecimento, englobando todos os setores da sociedade.

Que atrações o público vai encontrar? Como se divide o Festival?

O Festival contará com diversas atividades distribuídas pelo dia. O espaço principal será a Tenda de Historiadores e Jornalistas, que abrigará as conferências e mesas principais de debates durante todo o festival. Além das conferências, haverá a exibição de filmes - selecionados pela organização - e debates com diretores e atores convidados; no Proseando no mercado, os autores convidados poderão falar sobre os seus livros lançados, assim como terá uma Livraria com os últimos lançamentos no campo da História; contaremos também com oficinas de História e cinema, voltadas para os professores e a juventude de Diamantina; atividades culturais da cidade, com músicos, performances de época, cortejo e passeata pelas ruas do Centro Histórico e; uma programação infantil que será dedicada a atividades lúdicas e históricas para a meninada.

Serviço

Para se inscrever, basta entrar no site do fHist [http://fhist.com.br/], preencher uma ficha, e pagar uma taxa. Para estudantes é R$ 30, e não-estudantes, R$ 80. O valor é válido por todos os cinco dias de eventos, e dá direito à entrada na Tenda dos Historiadores, a principal, na Praça Doutor Prado.

Após a inscrição, e de posse do boleto bancário já pago e de um documento de identidade com foto, ou da carteira de estudante, se for o caso, o interessado deve pegar a sua credencial já em Diamantina, nos dias 7 e 8, em endereço a ser divulgado. No momento, também leva uma pasta com a programação completa, bloco de anotações, caneta e outros materiais do fHist, além de ingressos para as sessões de cinema no Teatro Santa Izabel, de acordo com a disponibilidade da sala de exibição. As sessões na praça, inclusive a pipoca, são gratuitas.
A participação nas oficinas do fHist será gratuita, mediante inscrição específica, e dará direito a certificados. Os temas da Oficina de História e a data de abertura das inscrições serão divulgados no site oficial e nos boletins. As Oficinas de Audiovisual e de Educação Patrimonial ainda estão sendo programadas.



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

POR QUE HISTORIADORES?



Ivan Bilheiro – Graduando
em História e Filosofia

            Quando interpelado por uma pergunta, aparentemente simples mas de grande complexidade, apresentada por uma criança, sobre para que serviria a história, um dos principiadores do movimento dos Annales afirmou: eis o questionamento que chama o historiador a prestar contas.
            A exemplo da obra Apologia da história ou o ofício do historiador, de Marc Bloch, iniciada com este questionamento, toda uma biblioteca já se escreveu acerca do problema da legitimidade da História. Não é fácil a pergunta “O que é História?”, mas este é o desafio por excelência dos historiadores. Um questionamento inescapável.
            Uma forma um tanto quanto peculiar de abordar o problema é o de legitimar o ofício do historiador apontando aquilo com base no que ele se diferencia, aquilo que faz do historiador um profissional peculiar.
            Uma colocação bem interessante de Bloch foi a definição da História como a “ciência dos homens no tempo”. Explicitou aí os elementos fundamentais, as peças-chave do labor deste intrépido cientista, o historiador.
            Mas a amplitude da definição coloca, na frente do historiador, a pedra no caminho de Drummond. Um problema que poderia ser apontado por um questionamento infantil, como aquele feito a Bloch: se o historiador fala do homem (ou dos homens) no tempo, em que seu trabalho se diferencia do discurso comum, da conversa cotidiana? Chega a ser cômico, porém logicamente válido: uma fofoca sobre o relacionamento extraconjugal da vizinha, encerrado no ano passado, não deixa de ser um discurso sobre o homem no tempo. Deixando de lado o caricaturesco, a reflexão: jornalistas enveredam por pesquisas de cunho histórico, o discurso senso-comum afirma fatos do passado, em uma só palavra, o homem no tempo é elemento (matéria-prima) de várias formas de discurso. E então, a chamada para advogar a causa: por que, então, historiadores?
            Primeiramente, há que se fazer uma diferenciação crucial: o processo histórico, a dinâmica mesmo da vida, as ocorrências incontáveis e infindas do homem no tempo, isto é a história (note-se: h minúsculo). Já a História é aquilo com o que se ocupam os historiadores profissionais. Em síntese, então, a História debruça-se sobre a história.
Mas a pedra no caminho alerta para o entendimento do que segue: o interesse por este objeto, a história, é comum, é amplo, e é da natureza do próprio homem. Todos nos interessamos pelas ações, pelas ocorrências, pela vivência do homem, que se dá no tempo. Vale voltar a Bloch para ratificar sua percepção: os leitores de Alexandre Dumas, como ele diz, talvez sejam historiadores em potencial. E aí, trazendo à contemporaneidade, acrescenta-se: não o são, também, os leitores de Laurentino Gomes, por exemplo? E ele próprio, como tantos outros, não é?
A diferença fundamental entre o historiador profissional e o historiador diletante (o jornalista, o homem comum, etc) é a abordagem. O historiador tem método, e apresenta o método. Ele aborda o caos do homem no tempo, recortando-o, estabilizando-o, refletindo. Diante da realidade babélica da história, o Historiador não se acanha e, corajosamente, se imerge no trabalho na busca da compreensão. Neste sentido, uma fundamental diferença: o historiador tem (ou, ao menos, precisa ter) um vasto preparo teórico, porque é assim que a historiografia vai se diferenciar dos demais discursos que abordam a história.
O historiador é, portanto, aquele em que há a característica de todos os homens de querer compreender a si, mas que não se limita ao diletantismo e, indo além, estabelece métodos, formas de abordar “o homem no tempo”, de forma a se satisfazer com tal conhecimento (não se pode negar o prazer do fazer histórico) e a poder oferecer também este conhecimento à comunidade, aos outros. A História, através deste labor, está cumprindo seu papel, em meio às ciências, de auxiliar na compreensão da vida.
Concluindo, é possível dizer que os historiadores, então, estudam, investigam – de forma peculiar, metódica, com um preparo próprio e específico – aquele material pelo qual todos têm interesse: o “homem no tempo”, a história em si.
Concordo e complemento um amigo historiador que certa vez disse: os homens gostam da história ao mesmo tempo que a fazem. Os jornalistas a divulgam. Mas os historiadores... estes a mantêm de pé!

Historiador lança livro em que tenta tirar João Goulart do limbo

ELEONORA DE LUCENA

DE SÃO PAULO




Fraco, medíocre, demagogo. Fujão, covarde, traidor. Direita e esquerda carimbaram vários adjetivos na imagem de João Goulart, o presidente deposto pelo golpe militar de 1964.
Esquecido, quase sem lugar nos livros de história, Jango tem em torno de si silêncio. Jorge Ferreira, 54, professor de história do Brasil na Universidade Federal Fluminense, busca desinterditar a memória desse personagem com "João Goulart, uma Biografia".
Nesta entrevista, ele fala do livro e diz que populismo não é um conceito teórico, mas uma desqualificação política. "Populista é sempre o outro, aquele de quem você não gosta", afirma.
CPDOC/FGV-RJ
João Goulart toma chimarrão em Goiás em 1963
João Goulart toma chimarrão em Goiás em 1963
*
Folha - Por que o sr. resolveu fazer esse livro?
Jorge Ferreira - Estudei Getulio Vargas e o trabalhismo, daí a curiosidade sobre João Goulart. Foram dez anos de trabalho. Creio que chegou o momento de retirar Jango do limbo da memória do país.
Ele foi um personagem importante, mas as análises sobre ele não se distanciam das paixões políticas. Ora é definido como demagogo e incompetente, ora como vítima de um grande conluio de empresários brasileiros com o governo norte-americano. Quis conhecer o personagem para compreendê-lo, e não julgá-lo.
O que encontrou de novo?
O livro é um relato biográfico, enfocando sua vida política e privada. Evitei enfoques sensacionalistas. Talvez a maior novidade seja lembrar à sociedade brasileira que um dia Jango foi líder político de expressão. Como diz o historiador inglês Eric Hobsbawm, o papel do historiador é lembrar à sociedade o que aconteceu no passado. Foi o que eu fiz.
Quais foram as influências sobre Goulart?
Goulart, assim como Brizola, era jovem quando Vargas instituiu a ditadura. Ele entrou para a política no período democrático. Em 1945 e 1946, a democracia liberal tinha grande prestígio. As esquerdas e o trabalhismo associaram os ideais democráticos com o nacionalismo, o desenvolvimentismo, as leis sociais e o estatismo.
Nos anos 1950, o Estado interventor na economia e nas relações entre patrões e empregados era um sucesso na Europa. Os trabalhistas observavam a experiência inglesa com o programa de estatizações e também o sucesso da industrialização soviética, com o Estado interventor e planejador da economia. Também culpavam os Estados Unidos pela pobreza da América Latina.
Por que há pouco dados sobre o empresariado em relação a Goulart e aos militares?
O golpe de 1964 não foi dado por empresários que usaram os militares. O golpe foi dado por militares com apoio empresarial. A Fiesp, em inícios de 1963, apoiou Goulart na efetivação do Plano Trienal. Ele teve apoio de setores conservadores, desde que estabilizasse a economia, controlasse a inflação e se distanciasse das esquerdas, sobretudo dos comunistas e dos grupos que apoiavam Brizola na Frente de Mobilização Popular.
Os grandes empresários, os políticos conservadores e a imprensa se afastaram de Goulart e passaram a denunciar o "perigo comunista" no segundo semestre de 1963, quando a economia entrou em descontrole e Jango se aproximou das esquerdas.
Com o comício de 13 de março de 1964, os golpistas crescem e se unificam. A revolta dos marinheiros foi a fagulha que faltava, desencadeando gravíssima crise militar. A crise do governo Goulart tem uma história. É preciso reconstituí-la, com documentos e provas, superando repetidos jargões.
No livro o sr. discute a questão do populismo. Por que populismo continua sendo um termo pejorativo?
Sou crítico em relação ao conceito de populismo. Populistas podem ser considerados Vargas e Lacerda, Juscelino e Hugo Chávez, Goulart e Collor, FHC e Lula.
Personagens tão diferentes, com projetos díspares, com partidos políticos distintos são rotulados sob o mesmo conceito.
Qualquer personagem político pode ser chamado de populista, basta não gostar dele. Populista é sempre o outro, o adversário, aquele de quem você não gosta.
Não se trata de um conceito teórico, mas de uma desqualificação política. Eu prefiro nomear os personagens assim como eram chamados na época: Jango era trabalhista, Lacerda, udenista, e Prestes, comunista.
Qual é o maior legado de João Goulart?
O governo Goulart foi o auge do projeto trabalhista, que começou com as políticas públicas dos anos 1930, em época de autoritarismo. Mas que se democratizou, se modernizou e se esquerdizou a partir da segunda metade dos anos 1950.
Seus elementos fundamentais foram o nacionalismo, o estatismo, o desenvolvimentismo, a intervenção do Estado na economia e nas relações entre patrões e assalariados, a manutenção e a ampliação dos benefícios sociais aos trabalhadores, a reforma agrária e a liderança política partidária de grande expressão. Creio que muitas dessas tradições inventadas pelos trabalhistas ainda estão presentes entre as esquerdas brasileiras.




quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Palocci...



O Homossexual no Cinema: O Dilema da Representação


Fábio Silveira, jornalista especializado em cinema e música, explica como a temática gay vem sendo sendo discutida e representada pela narrativa cinematográfica mundial.

Por  Fábio Silveira

Ao contrário do que muitos possam pensar, a representação do personagem homossexual no cinema não aconteceu tardiamente em termos absolutos. Ela existe desde o início. Literalmente: em 1895, Thomas Edison já rodara um filme experimental, "The Gay Brothers", em que 2 homens dançavam ao som de um violinista. O primeiro beijo entre dois homens foi registrado no filme "Wings", de 1927, o primeiro vencedor na história de um Oscar de Melhor Filme. Antes disso, insinuações de situações de temática gay já podiam ser encontradas em filmes de Chaplin (Behind the Screen, 1916) ou em alguns curtas de O Gordo e o Magro. Após, até em musicais, como em "A Alegre Divorciada" (1934), estrelado por Fred Astaire e Ginger Rogers.
Imagem: Cena emblemática de "Juventude Trasnviada" (Rebeld without a cause), clássico de 1955

De uma forma geral, porém, o registro dominante era somente um: se um homem tivesse trejeitos femininos ou se ele ousasse vestir-se de mulher, o único efeito que se poderia esperar era o da comédia. O homossexual pressupunha e representava alívio dramático e nada além. Ainda assim, havia espaço para algumas notáveis exceções, como a famosa cena de "Marrocos" (1930) em que a cantora personagem de Marlene Dietrich aparece em um smoking, elegante e sem jamais perder o efeito de femme fatale, e num movimento inesperado beija suavemente uma das mulheres na plateia, num ato claramente provocante para homens e mulheres nas poltronas dos cinemas.

A liberdade artística de que o cinema se aproveitou nas suas primeiras décadas de existência, porém, seria logo cerceada nos EUA, que nos anos 1940 já era a maior potência mundial na exportação de filmes. O Código de Hays, um documento que listava o que o bom costume e a família não deveriam assistir nas telas, não teve um início particularmente forte: foi adotado pela MPAA (Motion Picture Association of America) em 1930, mas somente a partir de 1934 foi aplicado severamente. Com a adesão da Igreja Católica, que também criara um código para os seus seguidores e, no final dos anos 1930, já ameaçava estimular boicotes a filmes, os produtores de Hollywood, prevendo terríveis prejuízos, passaram a adaptar seus filmes a essas regras, que foram, também, um dos alicerces de censura midiática do Macartismo.

O Código de Hays condenava nos filmes situações que envolvessem beijos de língua, cenas de sexo, sedução, estupro, aborto, prostituição, escravidão (de brancos), nudez, aborto, obscenidade e profanação. O termo homossexual, ainda que não citado, provavelmente se encaixava nesta última proibição. E, como se pode notar, a violência não era censurada em suas diversas encarnações possíveis. O código foi seguido fielmente pela grande maioria dos filmes produzidos em Hollywood até 1968, quando a MPAA criou o seu novo termo de conduta e censura, com bases muito similares ao anterior, e usado até hoje. Filmes que envolvem situações sexuais ainda são mais censurados do que filmes ultraviolentos e aqueles que envolvem relacionamentos homossexuais certamente um tanto mais.

À época, as proibições instituídas pelo código tiveram efeito pior do que banir o personagem homossexual do cinema; elas mudaram a sua representação, instituindo apenas a possibilidade de 2 papéis: a de antagonista naturalmente perverso ou a de personagem trágico. A galeria de vilões de clara, porém jamais aberta, orientação homossexual é extensa. Em "Festim Diabólico" (1948), obra-prima de Alfred Hitchcock, a dupla de assassinos que desafia o personagem de James Stewart em um jogo psicológico é carregada de desejo homoerótico. Os vilões de muitos filmes do agente 007, como foi brilhantemente dissecado por Umberto Eco em seus ensaios, são em sua maior parte gays naturalmente malévolos ou dotados de uma incurável mania de grandeza.

Mais grave e danosa do que esta representação, porém, foi a ideia de que o destino do personagem gay deveria ser sempre trágico, fosse pela falência de suas ambições dentro do universo narrativo ou pelo proibido do seu desejo. Como não esquecer a emocionante cena final de "Juventude Transviada" (1955), de Nicholas Ray, em que o personagem de Sal Mineo, apaixonado pelo de James Dean, comete o sacrifício final para salvar o amigo? Ou a cena em que a governanta da personagem-título de "Rebecca, A Mulher Inesquecível", também de Hitchcock, manifesta sutilmente ao abraçar um casaco o desejo que sentia por ela? Este último caso revela também o quanto Hollywood era severa com personagens homossexuais femininos, retratando-nas frequentemente como megeras sem coração.

Elizabeth Taylor, por sua vez, protagonizou 2 adaptações bem-sucedidas de peças de Tennessee Williams ao cinema que tratavam o tema homossexual de forma parecida: "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958) mostrava Paul Newman como um ex-jogador (não abertamente) homossexual frustrado e alcoólatra, e "De Repente, No Último Verão" (1959) em que a personagem de Taylor sofreu o terrível trauma de assistir o seu primo, homossexual, ser linchado enquanto passavam férias num vilarejo espanhol. A cena que descrevia esse linchamento foi filmada de forma idêntica à observada em "Noiva de Frankenstein" (1934) e a mensagem era uma só: se viveram como monstros, deveriam morrer como monstros.

Qualquer cena ou argumento que tratasse o personagem gay de forma aberta estava destinada a alguma censura, fosse da MPAA ou dos próprios produtores/cineastas. Dessa forma, um romance sobre um escritor alcoólatra e sexualmente confuso ("Farrapo Humano", 1945) virou um filme sobre um escritor alcoólatra com bloqueio. Outro romance, sobre ataques a homossexuais e assassinato se tornou um filme sobre antissemitismo e assassinato ("Rancor", 1947). Uma cena de "Spartacus" (1960), em que há uma relação de erotismo entre 2 homens, tão comum e popularmente conhecida como típica da Roma e Grécia Antigas, e um diálogo sugestivo foi cortada da versão final. O mesmo, por outro lado, não acontecera um ano antes com a antológica cena final de "Quanto Mais Quente Melhor" (1959): ou seja, se o romance gay fosse sugerido como real não era tolerado, se fosse para efeito cômico, aí continuava não havendo problema.

Os primeiros sinais de mudança vieram do outro lado do oceano, principalmente do cinema inglês, que na década de 1960 começou a tratar da temática homossexual de forma aberta. Em 1961, "Meu Passado Me Condena" trazia Dirk Bogarde no papel de um advogado homossexual que decide processar um chantagista que ameaça expor a vida secreta de alguns homens ao mundo. Foi uma das primeiras vezes em que o termo homossexual era usado em um filme. O cinema autoral europeu, em muito motivado pela conjuntura histórica da década de 1960, retomaria a temática gay em inúmeros clássicos. "Satyricon" (1969), de Fellini, abordava abertamente o erotismo homossexual. Antes dele, a obra-prima "Persona" (1966), de Ingmar Bergman, explorou a tensão homossexual entre 2 mulheres de maneira dificilmente igualada posteriormente e que seria retratada novamente na década seguinte com "Gritos e Sussurros" (1972). Durante a década de 1960, Pier Paolo Pasolini fez o brilhantemente iconoclasta "Teorema" (1968), em que usava a homossexualidade como uma das armas para libertação de uma família burguesa.

Mas do lado de cá do oceano, o destino trágico continuava sendo a regra para o personagem homossexual. Em "Crimes Sem Perdão" (1968), Frank Sinatra interpretava um detetive que investigava mortes de homossexuais. Em 1980, William Friedkin faria "Parceiros da Noite", em que o personagem de Al Pacino era um detetive infiltrado no "submundo gay". Poucos filmes foram tão eficazes em reforçar estereótipos negativos. E nesta mesma década, Hollywood teria uma tragédia real para aplicar aos seus personagens gays: surgiram aqueles cujo destino estava selado por terem contraído AIDS. O representante máximo desse modelo talvez tenha sido o personagem de Tom Hanks em "Filadélfia" (1993), que lhe garantiu um Oscar (e um exemplo de papel a ser premiado num filme para tantos outros atores e atrizes que o repetiram).

Mas se a primeira metade da década de 90 ainda não tinha observado mudanças sensíveis no tratamento do personagem homossexual, ela ao menos permitiu intensificar o volume desses personagens, principalmente o feminino, observado com destaque em "Thelma e Louise" (1991), de Riddley Scott, e em "Tomates Verdes Fritos" (1991), de Jon Avnet, ambos com finais trágicos. Havia, porém, uma geração de cineastas que cresceu com acesso à produção independente da década de 70 e ao cinema europeu, livres de estereótipos. Com isso, provavelmente assistiram às produções de John Waters com o travesti Divine, notadamente os brilhantes "Pink Flamingos" (1972) e "Female Trouble" (1974), além de filmes de muitos outros diretores do underground da época, como o ícone "The Rocky Horror Picture Show" (1975).

O cinema nos últimos anos

O resultado é facilmente observado em uma pesquisa no IMDB (www.imdb.com), maior banco de dados de cinema do mundo, sobre filmes que contenham alguma temática gay. Dos mais de 4.200 filmes listados, apenas 1.000 foram produzidos anteriormente a 1996. Todos os restantes datam deste ano até 2011. Foi na década de 90 que o premiado diretor Gus Van Sant ganhou reconhecimento com "Garotos de Programa" (1991) em que abordava o relacionamento entre 2 deles. Ou que o fenômeno australiano "Priscila - A Rainha do Deserto" (1994), mesmo com todos os seus estereótipos, conseguiu apresentar travestis a uma audiência ampla pela primeira vez na história do cinema.

Essas primeiras conquistas ecoaram pelos anos 2000, que observou um verdadeiro boom na produção de filmes de temática gay. Pela primeira vez, em mais de 100 anos de cinema, o personagem homossexual foi representado em todas as suas complexidades. E deixou de ser o personagem para se tornar os personagens. Um garoto que descobre a sua própria sexualidade pode, por exemplo, encontrar ecos e questões relevantes no belo filme inglês "Delicada Atração" (1996), no divertido alemão "Tempestade de Verão" (2004) ou no emocionante filme tailandês "The Love of Siam" (2007). Por outro lado, aqueles que procuram o lado sócio-político do tema encontram diversos ângulos: o político do grande "Milk" (2008), de Gus Van Sant, o religioso no brilhante e corajoso documentário "For The Bible Tells Me So" (2007), sobre como famílias católicas ou protestantes lidam com filhos e filhas homossexuais, ou o comportamental de "Kinsey" (2004) que expôs a uma grande audiência as descobertas do doutor Alfred Kinsey sobre a complexidade da sexualidade humana.

Se os critérios forem severos, podemos afirmar que o mundo tem apenas uma década e meia de produção de filmes a respeito dos mais diversos aspectos que envolvem a homossexualidade. O espaço de tempo é curto e certamente ainda há muito o que desenvolver no que diz respeito aos filmes de gênero e às complexidades de personagens gays. Se a nossa relação com o cinema pressupõe um diálogo que contribui na nossa formação, essa produção frequente torna-se ainda mais necessária. Não se pode esquecer que, em 2006, "O Segredo de Brokeback Mountain", o filme mais sério a respeito da temática a conquistar um grande público, inexplicavelmente perdeu o Oscar de Melhor Filme, após ter levado as 2 estatuetas que definem uma grande produção (a de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Direção), para o inócuo "Crash". Uma década e meia de conquistas não apaga do inconsciente coletivo 100 anos de repressão. A mudança apenas começou.

Fábio Silveira - É jornalista (ECO/UFRJ) e atua profissionalmente na área de música e também cinema. 

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Historiador diz que 'brancos viraram negros' e causa polêmica.


Não coloquem maquiagem pra que eu negue a minha cor, tenho orgulho de ser negra e ter nascido em Salvador"  ILÊ AIYÊ.


"Não é cor da pele, é cultural", disse o historiador David Starkey durante um debate na televisãoFoto: Reprodução

O historiador britânico David Starkey provocou polêmica durante um debate no programa "Newsnight", do canal de televisão BBC, sobre os distúrbios violentos na Inglaterra. Starkey afirmou que "os brancos se tornaram negros" nos tumultos ocorridos em Londres e outras cidades inglesas na última semana.
Segundo o jornal online Mirror, David Starkey falou sobre uma "profunda mudança cultural", e citou o discurso do político britânico Enoch Powell, "Rios de Sangue", de 1968, no qual criticava a imigração de pessoas vindas de antigas colônias britânicas. O historiador disse: "A profecia dele estava absolutamente certa em um sentido. O (rio) Tibre não espumou com sangue, mas chamas queimaram, cobrindo Tottenham e Clapham. Mas não foi violência entre comunidades. Aí é onde ele estava completamente errado".
David Starkey se dirigiu a outro convidado, Owen Jones - autor do livro Chavs: the Demonisation of the Working Classes (sem versão em português) - e disse: "O que aconteceu é que grande parte dos 'chavs' (jovens britânicos violentos) sobre os quais você escreveu se tornaram negros. Os brancos se tornaram negros. Um tipo particular de cultura de gângster niilista, violenta e destrutiva virou moda, e negro e branco, masculino e feminino, operam nessa linguagem juntos".
"Não é cor da pele, é cultural", disse o historiador. "Veja David Lammy (representante de Tottenham no Parlamento), o arquétipo de um homem negro de sucesso. Se você virasse a câmera de forma que você só pudesse ouvi-lo como no rádio, você pensaria que ele é branco", afirmou David Starkey.
Os argumentos de Starkey foram contestados por participantes do debate, como a escritora e conselheira educacional Dreda Say Mitchell. "Comunidades negras não são grupos homogêneos", disse ela. "Precisamos parar de falar em 'nós' e 'eles'", afirmou Mitchell. As afirmações do historiador também provocaram reações na internet, principalmente entre usuários do Twitter que acompanhavam o programa.
Violência no Reino UnidoNo início da noite de sábado, 6 de agosto, manifestantes iniciaram protestos em Nottingham, no norte de Londres, motivados pelo assassinato de um homem de 29 anos e pai de família, dois dias antes, pela polícia. Os protestos logo se desenvolveram em uma onda de violência que se arrastou noite adentro, quando grupos depredaram lojas e incendiaram carros, dando início ao pior episódio de violência urbana da história recente londrina.
Os tumultos diminuíram na manhã de domingo, mas ganharam nova força nos dias seguintes, irradiando para diversos bairros londrinos e até mesmo para outras cidades, como Manchester, Liverpool e Birmingham. A intensidade da violência levou centenas de policiais às ruas para conter os levantes. O premiê britânico, David Cameron, e o prefeito de Londres, Boris Johson, condenaram os tumultos, pelos quais mais de mil pessoas foram presas. Na madrugada de quarta-feira, outras três pessoas perderam a vida atropeladas em Birmingham e, na sexta-feira, Richard Mannington Bowes, 68 anos, que estava em estado crítico depois de ser ferido na noite de segunda, não resistiu e morreu no hospital, elevando para cinco o número de vítimas desde o início da onda de violência.

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