terça-feira, 6 de setembro de 2011

XV Bienal do Livro Rio bate recorde de público e atrai 200 mil pessoas nos quatro primeiros dias

Fonte: Fagga | GL exhibitions

Palestras de Luiz Eduardo Soares, Zuenir Ventura e Lisa Sanders, consultora da série de TV House, encerram o primeiro fim de semana da festa literária.

Maior evento literário do país, a XV Bienal do Livro Rio estabeleceu novo recorde de público para seus quatro primeiros dias: de quinta a domingo, 200 mil pessoas passaram pelos pavilhões e corredores do Riocentro, dispostas a participar da festa cultural e assistir a palestras que mostram toda a diversidade da produção literária brasileira. No primeiro fim de semana, o programa de encontros entre leitores e autores foi encerrado com um debate entre o cientista político Luiz Eduardo Soares e o jornalista Zuenir Ventura, com mediação da jornalista Marília Martins, no Café Literário. Em uma sessão bastante concorrida, a dupla abordou temas recorrentes em suas principais obras - no caso, Cidade partida (Companhia das Letras), de Zuenir, e Elite da Tropa 1 e 2 (Nova Fronteira), de Soares.
Reunidos para falar sobre o tema "O Brasil pode ser mais legal?", os dois tiveram uma resposta positiva. Para Luiz Eduardo, "quando acreditamos que as mudanças podem acontecer, nos preparamos para elas e contribuímos para que de fato aconteçam". Zuenir também se considera um otimista. "Está escrito no meu DNA: careca e otimista", brincou. "O otimismo leva à ação; o „não adianta‟, para mim, é terrível". Na opinião do autor, todas as mazelas podem ser resolvidas por vontade política, exatamente o que falta no caso do Brasil. Como não poderia deixar de ser, a implantação das UPPs foi um dos temas centrais do debate. Os dois concordam que a implantação da política nas comunidades do estado do Rio de Janeiro foi uma mudança forte e positiva em relação às missões policiais pontuais anteriores, baseadas no confronto, mas ainda há muito a ser feito.

A noite de domingo na Bienal também reservou um encontro com a médica e escritora Lisa Sanders, autora do livro Todo paciente tem uma história para contar (Zahar) e consultora de House, a badalada série de TV. Sanders conversou com o médico, psicanalista e escritor Francisco Daudt, na mesa-redonda "Do sintoma ao drama", mediada pelo escritor Felipe Pena. Os dois falaram sobre a relação entre médico e paciente. "Os dois precisam ser parceiros e trabalhar juntos na busca pelo diagnóstico correto. Eles têm que pensar juntos sobre o que está acontecendo", disse Sanders. Já Daudt defendeu uma linguagem mais acessível para médicos e psicanalistas. "É um grande defeito da nossa profissão: falamos coisas que as pessoas, às vezes, não entendem".
Sanders não se furtou a falar sobre House, enorme sucesso da televisão: "Eu me divirto fazendo a série. Os autores dizem o que o personagem tem em mente e preciso criar uma doença terrível para ele. Essas doenças sempre causam seis coisas terríveis aos pacientes ao longo do episódio. Minha missão é imaginar o que House e os médicos podem achar que ele tem, inclusive um diagnóstico que possa levar o personagem à morte", contou Lisa.

O público do Café Literário assistiu ainda a um bate-papo sobre as relações entre homens e mulheres entre a psicóloga brasileira Malvine Zalcberg e a autora americana Kim Edwards. Depois de pôr em questão as personagens femininas de suas obras, Zalcberg, autora de
A relação mãe e filha (Campus), e Edwards, que escreveu Lago dos Sonhos (Arqueiro), debateram a psicanálise e falaram sobre a diferença na postura e no comportamento entre homens e mulheres.
Contudo, a XV Bienal do Livro Rio mostrou que nem apenas de relacionamentos entre homens e mulheres vive a literatura feminina no espaço Mulher e Ponto. A jornalista Maria Dolores e a microbiologista Natascha Müller fizeram um debate descontraído sobre o mercado de livros voltado para as mamães. A conversa tocou em temas delicados de forma leve, sem tabus, como a gravidez na adolescência e as dificuldades vividas pelos pais de primeira viagem no momento em que nasce o tão esperado bebê. Logo em seguida, o tema foi as cirurgias plásticas e suas referências na literatura, discutido pelos médicos Charles Sá e Natalie Gontijo Amorim e a doutora Roseli Siqueira. Sá procurou questionar se é realmente necessário realizar cirurgias plásticas apenas para melhorar a aparência.

Na sessão que tem como objetivo difundir clássicos da literatura brasileira, através da leitura de trechos célebres das grandes obras nacionais, o Livro em Cena homenageou neste domingo José Lins do Rego e Lima Barreto. O primeiro teve trechos do romance Fogo Morto interpretados pelo ator Ricardo Blat. A obra, que fala sobre o declínio do ciclo da cana e, por consequência, dos senhores de engenho e do Nordeste mercantil, é considerada a obra-prima do autor. Durante a leitura, o ator deu um show de interpretação: carregando no sotaque, criou para cada um deles uma voz e uma postura corporal diferente. No fim da sessão, Ricardo beijou sua própria mão e levou o beijo ao rosto de José Lins do Rego, projetado em uma tela no palco.

Depois, José Wilker subiu ao palco para ler um trecho de Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto. "Quando fui convidado para realizar esta leitura, pensei em estudar, mas decidi que iria me surpreender com ela, assim como vocês. Esta é a primeira vez que leio o Policarpo em anos", explicou Wilker. A precisão, a riqueza de detalhes e a linguagem crítica, satírica e poética de Lima Barreto impressionaram o ator, que, ao final da leitura, abriu um largo sorriso e disse simplesmente: "Genial".

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